terça-feira, 29 de maio de 2007

Feijoada Completa

Como alguns de vós saberão, o meu prato preferido é a Feijoada, mais concretamente a Feijoada da minha Mãe.
Como qualquer prato de Mãe, esta feijoada tem aquele tempero especial, e aquele aprimorado que decorre de muitos anos de prática e de conhecimento da prole: no nosso caso o arrozinho solto no ponto, o feijão macio, a cenoura com a consistência exacta, a quantidade certa de carne e enchidos (nada daqueles muito complicados), tudo a cumprir uma proporcionalidade de degustação maravilhosa.
Portanto, a ideia de vir aí uma feijoada, não só pressupõe um belo petisco, mas também uma mesa em família, provavelmente num sábado (o meu dia preferido da semana, meu e de quase toda a gente, não?) ou até num domingo, logo uma coisa boa, em grande, daquelas que dá para marcar na agenda: “…coisa boa – sábado!”
Bom, continuando. Tudo isto para dizer que o fim-de-semana passado foi do género feijoada, feijoada completa.
Daqueles acontecimentos a marcar na agenda, a ansiar durante o tempo que medeia entre o conhecimento do acontecimento e a altura em que ele de facto acontece, e, quando acontece, com os ingredientes, tempero e quantidades certas.
A receita para este fim-de-semana de sucesso e a reter na memória começa com a adopção dos nomes certos: os meninos que vieram de Buenos Aires passaram a chamar-se Iracy e Paulão, as meninas da Bolívar adoptaram os nomes Luzilândia (a Joaninha), Marizilda (a Libelinha), e Jurema (eu).
A partir daqui tudo pôde acontecer. O tempo, que durante a semana tinha estado de chuva quase contínua e de frio quase glacial (pronto, há que introduzir um pouco de drama nesta narrativa!), pôs-se de postal, de quase Verão sem o calor abrasador, em suma, São Pedro concordou connosco e colaborou com a nossa novela.O itinerário, ambicioso para o tempo disponível, foi cumprido na íntegra, e complementado com boa-disposição e até algumas gargalhadas.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Assim, de repente…

Ainda “gripada”, e com os olhinhos a piscar de sono, ontem à noite recebi uma sms que me levou algum tempo a descodificar e ainda mais a acreditar: “GM, BL e PL almoçam 6ª no RJ contigo…”
Alguém percebeu alguma coisa?
Bem, no estado de quarentena e consequente abuso de (des)informação televisiva em que eu estava, demorei um bocadinho a resintonizar, mas tudo descodificado quer dizer que este “final-de-semana” vou ter visitas Porteñas!
Nada melhor para espantar esta gripe que já dura há quase uma semana, admito que já tinha pesadelos denguescos!
Agora só falta o São Pedro colaborar, dado que os cariocas têm os seus mais turísticos atractivos bem lá nas alturas e consequentemente, por estes dias, submersos num mar de nuvens: o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor (“…que lindo!”).
Bom… mas há sempre o calçadão, a Lagoa, a Copa, Ipanema, a Lapa, o Bondinho, Sta. Teresa – sim, acho que vai ser um repente bem ocupado.
Mais alguém quer participar?

terça-feira, 22 de maio de 2007

Escanifobético

Esta é uma das palavras que consta de uma lista que eu e as minhas amigas JC e JP fomos fazendo nas longas horas de viagens de comboio e observação de dinâmica de praças no nosso inter-rail.
Entre muitas listas e categorizações e eleições e por aí fora, fizemos uma lista de palavras estranhas donde constava escanifobético, galheta, pirolito, e várias outras, umas mais próprias, outras menos.
Hoje muni-me de bloco de notas e quando fiz a paragem no suco de melancia da Big Néctar apontei nomes de sucos que facilmente podiam pertencer à já referida lista. Como prometido, aqui estão os sucos com os nomes mais estrambólicos (esta é outra palavra da lista) do cardápio:

Açaí
Bacarí
Beterraba (suco de… ai!)
Burití
Cajá
Caju
Camu Camu
Cupuaçu
Caqui (que é diospiro neste lado do oceano)
Carambola (acho que também há em Macau)
Fruta do Conde
Graviola
Jaca
Jenipapo
Laranja com beringela (onde é que foram buscar esta combinação?)
Limonada Suíça (não faço ideia o que seja, mas nunca tinha percebido que os Suíços eram especialistas da limonada, achei curioso)
Mangabo
Murici
Pitanga
Seriguela
Tamarindo
Taperebá
Umbú

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Big Nectar

Faço aqui uma pausa no relato para fazer um outro tipo de relato, uma coisa mais digna de blog, poder-se-á mesmo chamar de post.
Refere-se a uma obra-prima da Natureza condignamente transformada pelo Ser Humano…
Passo a explicar – a Big Néctar é uma lanchonete que fica a umas duas quadras de nossa casa, uma lanchonete quase igual às outras todas, salvo o detalhe de ter, de todas (pronto, eu sei, não andei a experimentar todas-todas, nem sequer muitas, porque no inicio me dirigiram a esta e logo por lá fiquei – que dizer?, sou uma criatura de hábitos!), repito, de ter, de todas OS MELHORES SUCOS!

É realmente impressionante, a quantidade, a variedade, a qualidade.
Também tem salgadinhos, uns pratos rápidos, essas coisas, mas o que fica mesmo gravado na memória das papilas gustativas é o fresquinho e o sabor dos sucos.
No princípio, cheguei com aquela vontade de experimentar todos os sucos, percorrer o cardápio de A a Z, partir com coragem mesmo para aqueles nomes e combinações mais estranhas, tipo… agora não me recordo de nenhum em especial, só assim daqueles tipo açaí ou clorofila, mas eu vou lá e debito aqui toda a informação que recolher.
(OK, fui ver a um site – coisas como abacaxi com clorofila, acerola com laranja, açaí com proteinato de cálcio ou granola; guarafruta que é guaraná natural ou em pó com fruta à escolha do freguês).
Só que houve um dia (bem no inicio deste mês de muita maturidade que já passei aqui) de muito, muito, muito calor, em que estava precisada de um suco que me garantisse frescura e saciedade em 300ml o que não era tarefa fácil naquele dia. Então, (a criatura de hábitos a vir ao de cima) decidi apostar no hábito, na segurança de uma certeza. “Uhmmm… pode ser melancia!”
E pronto! Há aquelas coisas que levam muita experimentação nesta vida… descobrir o melhor café para tomar o pequeno-almoço com os amigos, descobrir como lidar com um dia de alergia total, de rinite no seu esplendor, uma arma anti-social poderosíssima, especialmente considerando que se refere a apenas a para aí 10cm2 da nossa área total (que aprendi andar à volta do 1,80m2) – (hoje é um desses dias, desculpem o desabafo!), descobrir o que fazer com a vida, descobrir, descobrir, descobrir.

Na minha listinha de preferências e descobertas já posso pôr: Melhor Sumo Para Um Dia Incrivelmente Quente Ou Para Levantar A Moral Num Dia Incrivelmente Alérgico – Sumo de Melancia da Big Néctar! - (que hoje teve a particularidade de me ter sido gentilmente trazido em forma de surpresa e compensação pelos vários pacotes de lenços aniquilados pela Joaninha – Muito Obrigada à melhor imitadora (do Mundo) do andar do Sid do Ice Age – é ver para crer!)

UFRJ - FAU

Quarta-feira passada fomos, eu e a Joaninha, à Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Que eu saiba, a Universidade tem dois campus, um na cidade e o outro um pouco fora, para Norte, a caminho do aeroporto internacional. É neste que fica a Faculdade de Arquitectura e mais uma boa parte delas.
O campus é gigantesco, modernista, cada edifício é um colosso e a comunicação entre edifícios… bem, digamos que eu vi vários táxis à porta da Faculdade.

É também neste edifício que fica a Escola de Belas-Artes.
Fomos com um arquitecto conhecido da Joaninha, que lecciona Elementos de Arquitectura e que gentilmente nos fez o tour-expresso, o início necessário à exploração do já referido grande edifício.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Como diz a Bi... "Pulita Laranjita"!


No 1º de Maio, em frente ao Copacabana Palace...

Quando, pelas 18/19 horas, já bem depois do anoitecer, se vê um batalhão de miúdos a jogar à bola, com os pais embevecidos, os turistas e restantes passeantes no calçadão embevecidos a olhar para a alegria deles, é difícil imaginar que esta é a mesma cidade onde ocorrem todas as atrocidades que ocorrem – desculpem o desabafo (e o momento lamechas nº1), mas… ontem semi-assisti a um episódio estranho e depois fui ver um filme que também tinha episódios estranhos… bom, esse relato fica para outra altura, porque agora falta concluir o 1º de Maio.
E depois do dia de praia foi o concerto da Daniela Mercury, em frente ao Copacabana Palace, grátis (muito importante) para celebrar o Dia do Trabalhador pela TIM, uma das operadoras de telemóveis nacionais. E foi muito engraçado.
As notícias do dia seguinte dizem que estiveram presentes 100mil pessoas!!! Teve muita piada porque estava toda a gente muito eufórica, eles adoram-na, conhecem as músicas e as coreografias, dançam, fartam-se de dançar e foi até emocionante perceber como a música une tanto as pessoas.
Acho que uma das características desta cidade é ter pessoas tão diversas, de classes sociais tão diferentes e naquela noite havia mesmo gente muito diferente unida pela música (eu sei, momento lamechas nº2), mas… foi importante.
A certa altura houve zaragata lá para perto do palco, então a Daniela (sim, a Daniela! Ela contou tanta coisa de "...quando era garota, crescendo lá em Salvador..."que parece que a conheço há 20 anos, como à JC!) fez um discurso para amainar os ânimos, foi muito democrática e parece que surtiu efeito. Foi importante, porque estou cada vez mais convencida de que aqui, e em muitos outros lugares, quando entra a polícia ao barulho a coisa fica destinada ao insucesso. E eles andavam por lá, aos muitos.
Foi muito engraçado ouvir aquelas músicas todas bem perto do local de origem, a “Rapunzel” (só me lembrava da Budi F e das suas dançarinas num certo e determinado vídeo de há muitos anos atrás), o “Nobre Vagabundo”, isso tudo. O concerto ainda foi abrilhantado pelas convidadas, Beth Carvalho e Margareth Menezes.

O resto da Sexta-Feira e o 1º de Maio versão Carioca

Foi uma tarde muito curiosa, impactante por conhecer aquela realidade que não é homogénea, não cabe num pré-conceito, preconceito.
Conheci o Diego de 9 anos, menino de rua adoptado pela mãe do já referido Filipe, que achou muito curiosa “essa coisa que você fala”, ou seja, o português. Eu disse-lhe que se ele escutasse com atenção ia conseguir perceber tudo – então começámos numa brincadeira de falar português de Portugal e português do Brasil, durante meia-hora eu tive um interruptor. Desenvolveu uma paixão pela máquina fotográfica da Joaninha e foi ele o repórter fotográfico dessa tarde. O Diego nunca foi ao Cristo Rei.
A Mariana, 13 anos acabados de fazer, anuncia-se sempre com um bater de palmas, um jogar de cabeça para trás e gargalhada rouca e sonora, é a auto-intitulada “Rainha do Pedaço” e dona da pista, pois domina o funk. Tudo passa por ela, ali naquele reino tem o poder de tomar partido e fazer partidos. Tem “um Amor, uma Paixão e uma Distracção” e nessa sexta-feira estava toda contente porque um dos três ia “dar!”… Ainda assim, é uma das mais fiéis às tardes das “Anas e Marias” e ouve a Andreia, a “Ana” daquela comunidade como se fosse a mãe que não tem.
Outra menina (de quem infelizmente não me recordo o nome), chegada de Minas há cerca de um ano, esteve o tempo todo calada e a olhar para o frenesim da tarde e para o fim foi-se pôr entre a Joaninha e a Libelinha e encetou conversa – que o Rio é muito diferente de Minas, ainda se está a adaptar, que não gosta muito de praia mas a que gosta mais é a do Leme, que em breve tem de se ir embora porque vai começar a “Malhação”. Uhm… onde é que eu já ouvi isto?
A chuva, que durante a tarde toda se tornou torrencial, amainou, e quando descemos para o Leme para apanharmos uma van de volta a Copacabana, reparei nos “motoboys” que estavam na base da ladeira. A Borboleta já me tinha falado deles, taxistas de mota que sobem o morro mediante o pagamento de 1 real.
O jantar foi pizza, um rodízio de pizza de um dos dois supermercados nossos vizinhos, o Rio Sul. Veio o Ricardo, um colega de turma da Libelinha e da Joaninha que também está cá a estagiar. Houve brindes e gelado e depois quase todo o grupo saiu para a Lapa, o que até agora percebi como sendo o sítio da noite aqui.
Na primeira paragem um boteco, donde pude observar que os carros são estacionados em ponto morto, para poderem ser manobrados para outros carros estacionarem ou saírem.
Dali fomos para os “Democráticos”, uma casa que me lembrou a “Kananga do Japão” – edifício de meados do século XIX onde se dança o samba, algum tocado ao vivo.

O 1º de Maio nesta versão Carioca foi de tranquilidade a lembrar o Verão. Grande parte do dia foi passada na praia de Copacabana, cheia como se fosse fim-de-semana naquele dia deste Outono que tem sido tão generoso.
Se vos preocupa a noção de limite e espaço próprio nas praias portuguesas, então acho que aqui essas noções sofrem uma adaptação! Não sei bem como, mas os Cariocas ainda conseguem ser mais espaçosos de que uma família de 6+cão na praia de Armação de Pêra. Chegam e instalam-se, não interessa se já estava lá alguém antes. Literalmente, tive de mudar de sítio 3 vezes porque fui abalrroada!
Para além deste dado pitoresco, os Cariocas que frequentam Copacabana – sim, porque são muitas as nuances entre estes e os que frequentam, por exemplo, Ipanema; pude verificar isso no domingo passado – embora muitíssimo diversos (já ouvi aqui por mais do que uma vez que a praia de Copacabana é o local mais democrático do Rio) são todos muitos espalhafatosos. Ouvem-se as conversas, as fofocas e os babados, tudo o que não se quer ouvir mas que é impossível deixar de ouvir porque se passa a menos de 1 metro e é dito em alto e bom som… “Aí, eu fui com a Kelly na Academia, e aí, a gente chegou lá, e aí, encontrámos o Rodrigo, você sabe, aquele que está ficando com a Fabiana – esse é a maior fofoca, ela diz que ele beija maaal! – e aí…”
A completar o quadro sonoro há a passagem constante dos vendedores de… bem, basicamente tudo! É realmente constante, já os tentei contabilizar num limite de tempo, mas não dá, tinha de ter visão a 360º. Eles vendem amendoins, cangas, óculos de sol, vestidos, pulseiras, colares e anéis, bebidas (“Água, h2o, coca-cola, cerveja, Skol!” “Mate! Olh’ó mate ((mátchiii)! Mate Leão” “Guaraná, Limonada, GuaráViton”), comida (“O sanduíche natural!””Empada, esfiha, pastel!!!”), protector e bronzeador, canga-bolsa, Picolé e Sacolé da Moleca, gelado Kibom, gelado Alô Itália, um pouco de tudo num carreiro permanente.
Depois, aqui não há bandeiras a indicar o estado do mar. Se o mar está bravo, os melhores indicadores são a presença dos surfistas e bodyboarders, que por as ondas se formarem tão em cima da zona de rebentação funcionam eles próprios como desmotivadores dos banhistas, dado que ninguém aprecia a perspectiva de levar uma pranchada na fonte. Se a coisa está mesmo má, aparecem os “Guarda-Vidas”, os Nadadores-Salvadores do pedaço, que com o seu ar Baywatch Carioca se reúnem em grupinhos a observar o movimento (não exclusivamente das ondas e das correntes) e espetam umas plaquinhas a dizer “Perigo-Correnteza”.
O Carioca, como é mundialmente sabido, gosta de estar em forma e trabalhar para isso. Como tal, aqui as “academias”, nossos ginásios, ganham importância de serviço de urgência, ao ponto de estarem abertos 24horas, coisa que não acontece com muitas urgências no nosso país.
O calçadão é outro espaço privilegiado para o exercício, tal como a Lagoa Rodrigo de Freitas, cada um ao seu estilo. Mas a areia, é aqui um recinto olímpico entalado entre o calçadão e o mar. Assim, aquelas distracções de areia do tipo “a raquetes”, são encaradas como desporto nacional, e por vezes são tantos os entusiastas que se formam batalhões de jogadores, todos alinhados a treinar as melhores batidas e a ouvir os conselhos dos treinadores. O entusiasmo pelo desporto de praia é tanto, que na faixa de areia contígua ao calçadão há uma série de delimitações de campos de jogo – futebol, vólei, andebol, futvólei… Estes são explorados ou pelos proprietários dos quiosques próximos, ou por grémios associativos, ou mesmo pela Prefeitura, que promove actividades de praia para miúdos de todas as idades, durante horários variados e de actividades também variadas.

Ainda Sexta-Feira passada e as Vans

As vans… lá está um bom tema de conversa.
As vans são mini-autocarros ou maxi-taxis que pululam nesta cidade, que cumprem determinadas rotas, rotas variadas, das quais apenas se conhece o ponto de partida e o de chegada, sendo os intermédios ditados pelas necessidades dos fregueses. Há-as mais ou menos legais e as totalmente ilegais, penso eu! Aquelas que eu acho que são mais ou menos legais são as que têm anunciados os pontos de partida e os de chegada, têm um número de telefone para reclamações e param em sítios mais ou menos pré-determinados. As outras, as que eu acho que são totalmente ilegais… vão passando por todo o lado, têm um angariador, perigosamente pendurado numa porta de correr que o pode guilhotinar numa qualquer travagem mais brusca, que vai gritando (ou falando mais baixo se a zona é de movimento e vigiada): “P’rá Copa, Ipanema, Vidigal, não tem lugar sentado mas saem 4 na Bolívar!”, “P’ro Leme!”, nas quais se paga os mesmos 2 reais que num autocarro (ai, os autocarros, outro pano para muita manga!), e se pode usufruir de uma condução menos brusca que a dos senhores dos ônibus. Nessa sexta, tomámos então a van em direcção ao Leme, para andarmos o resto até à Comunidade no morro Chapéu Mangueira. Ao sairmos da van, a angariadora desejou-nos “bom fim-de-semana e boa sorte, vai com Deus querida”, e lá fomos as 4 subindo ligeirinhas pela ladeira, acompanhadas de uma chuvinha intermitente. Depois de subirmos, subirmos, subirmos… chegámos! Chegámos ao local de encontro nesta comunidade do projecto “Ana e Maria”. Trata-se de uma iniciativa do Viva Rio, que eu, sinceramente também ainda não sei muito bem o que é, mas penso que seja um departamento da Prefeitura virado para a assistência à população… tenho de ir ver! O “Ana e Maria” é como um ATL que recebe grávidas adolescentes, ou mesmo não-grávidas mas adolescentes, ou mesmo namorados ou até não namorados, miúdos que simplesmente preferem passar o tempo ali em vez de o passarem na rua. Ali discute-se sobre tudo o que tenha a ver com a vida, sobretudo (outro, mas pegado) sobre a sexualidade, a prevenção, o que se supõe que pudessem ser as nossas aulas de educação sexual, se alguma vez avançarem. É um espaço de abrigo e aconselhamento, mas também de aprendizagem, um projecto que cativou alguns fiéis, daqueles que quase nunca faltam aos encontros. As “Anas” são as orientadoras e as “Marias” as adolescentes. Um dos que nunca faltam é o Felipe, 14 anos feitos nessa semana e celebrados nesse dia, que reivindica que o projecto devia incluir “Josés”! A Borboleta estava a trabalhar neste projecto, e naquela sexta-feira foi também a festinha da sua despedida. Houve muita comida (pastelzinho, bolo de brigadeiro, por aí fora), bebida (tudo refrigerante), e pessoas a vir de comunidades bem distantes, algumas com filhos de meses ao colo tendo tido que apanhar não sei quantos autocarros só para se despedirem. Lá estavam representantes das comunidades da Maré, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo, pelo menos. Para além da comida houve dança, discussão, sessão de perguntas e respostas às 4 Portuguesinhas sobre se em Portugal se ouve funk, qual a nossa comida Brasileira preferida e o que é que se come em Portugal (“Bacalhau? Blerrrc!”), sobre se temos namorado, sobre o que é que há lá do Brasil, sobre se as Havaianas são muito caras lá, por aí fora.

Sexta-Feira passada (já bem passada!)

Os tais pontos a assinalar vão ter de esperar… Ontem foi sexta-feira, um dia cheio, em cheio. Não fui trabalhar, pelo que tive de trabalhar a quinta toda! AIII FIIIDA!!! (muito difícil!) O não ter ido trabalhar na sexta teve uma razão de ser, aliás várias razões de ser. A primeira foi ter combinado ir logo de manhã com a Libelinha e a Borboleta, ao local de um dos projectos desta última. Projectos não no sentido Arquitectónico do termo, já que a Borboleta é, de nós as quatro, a única que conseguiu fugir à praga e formou-se em Psicologia. Este projecto ganha forma no voluntariado que ela tem vindo a fazer numa escola, o “Solar dos Meninos de Luz”. A particularidade desta escola é que fica na favela do Pavão-Pavãozinho, uma comunidade entalada num morro entre Copacabana e Ipanema. A escola tem classes para crianças dos 3 meses aos 18 anos de idade, e a ideia dominante é proporcionar a crianças (em hipotético risco) a educação necessária ao ingresso na faculdade ou curso profissionalizante sempre fintando os destinos mais evidentes que a vida na favela pode oferecer. Bom… isto foi um primeiro e bastante breve contacto que eu tive com esta organização, se quiserem saber mais sobre esta escola podem “acessar”: www.meninosdeluz.org.br, deverá ter informação engraçada, pelo menos julgando pela que têm no folheto! Continuando… fomos lá, a pé fica a cerca de 15 minutos de nossa casa, sendo que no caminho temos de atravessar uma estrada com mil faixas que é uma saída de um túnel que atravessa este morro (do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, e que 5 dos 15 minutos são à espera de oportunidade para passar! Subindo umas escadas que fazem a fronteira entre Ipanema e a favela, chegamos à rua da escola. E pronto, ali encetei um rol de paixões que desenvolvi durante o dia, mal entre na sala dos meninos até 2 anos de idade… cerca de 15m2 para mais ou menos 30 miúdos que em menos de 5 minutos nos dão beijinhos, abraços, querem deitar-se no nosso colo ou fazer o pino nele. As educadoras, com uma dedicação enternecedora e abertura à chegada de voluntários muito positiva, o chão almofadado onde todos andam descalços e rebolem e dormem e por aí fora. É difícil explicar, mas apesar de ter andado a fazer de elevador até à magnífica vista da janela sobre o recreio para quase todos os piniquinis, de ter feito saco de batatas de alguns deles, de ter sido a árvore para trepar para 3 ou 4 simultaneamente, de ter sido o colchão de pino de uma aspirante a ginasta, de ter que manter acordada uma Duda adormecida à força de cantar 500 vezes a música do sapo, de ter dado o almoço a uma Carolina com caracóis pretos… saí de lá renovada. “O Sapo não lava o pé, não lava porque não quer! Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer! MAS QUE CHULÈ!!!” “O papar, o papar vou comer, vou comer, p’rá ficar fortinho, p’rá ficar fortinho e crescer, e crescer!” (coma melodia do Frère Jacques) Já marquei uma visita ao Solar na próxima quarta, às 14h30, uma condição para futuros voluntários. Regressadas a casa, a Joaninha juntou-se a nós para o almoço e, depois de devidamente apetrechadas após a ida ao supermercado Princesa – nosso vizinho – seguimos para o compromisso da tarde. Apanhámos uma van na Avenida Atlântica até ao Leme e subimos o morro do Chapéu Mangueira.

sábado, 12 de maio de 2007

Partida

A primeira semana foi cheia, tão cheia (!) que quando passou deixou a sensação de que eu já estava cá há coisa de dois meses (mais coisa menos coisa – posso continuar a arranjar montes de expressões com “coisa” ou talvez seja melhor parar por aqui…)
Por um lado, este é um lugar que é avassalador nas boas-vindas, por outro, as minhas duas semanas iniciais de estadia Brasileira coincidem com as duas semanas finais de estadia da Borboleta (o que implica muitos processos de despedida dos quais também vou participando) e por um terceiro lado – que faz desta problemática algo como um triângulo – a saída de Portugal, idêntica a praticamente todas as saídas da Pátria Mãe para um processo de emigração ou semi-emigração, foi cheia de pontas soltas, assuntos-da-máxima-importância-naquela-altura que ficaram por resolver, e, no caso, uma irmã hospitalizada num sítio longínquo no dia de aniversário do nosso Pai e com prognóstico meio perdido no processo telefone estragado que é a comunicação Buenos Aires-Lisboa-Rio de Janeiro…
Bom, mas no dia em que finalmente começo este resumo das minhas semanas Brasileiras, a situação da querida irmã está, de forma aparente e comprovada por conversação via Skype, em processo de convalescença doméstica e óptima resolução. Assim o espero.
Portanto, mais leve (embora os meus 58 quilogramas recentemente medidos numa balança Carioca o desmintam), aqui inicio o que pretende ser o blog que ainda não criei, os mails que devia escrever e ainda não escrevi, os postais que já comprei e ainda não enviei, os souvenirs que já estão pensados mas ainda não não achetados (do Francês achetar… acheter, assim é que é!).
Para além da dificuldade na despedida que me caracteriza, devidamente representada pelo facto de fechar a mala a escassas horas da partida e de ainda ter ido ver os episódios de Prison Break que deram no dia anterior, a viagem correu sem grande sobressalto. A assinalar apenas alguns pontos –